Menina.

Eu conheço uma menina e conheço ela muito bem pois ela tem dois lados que me completam, é a minha melhor amiga e a minha pior também, eu adoro-a e odeia-a ao mesmo tempo por diferentes coisas e motivos e tudo. Ela é jovem, ronda a casa dos 20, ela é feliz e também triste, poderia ser equilibrado se ultimamente a tristeza não vencesse constantemente a sua felicidade, o seu querer, a sua luta. Haverá algo mais triste que uma jovem como ela se sinta como se tivesse 70 anos? Ela já deixou muitas coisas para trás e foi impulsiva com outras que nem sequer valiam a pena, ela pensa e pensa e pensa em quantas vezes deixou de fazer o que gostava, o que queria para alguém lançar um sorriso, ser feliz. Ela volta a pensar em quantas vezes ficou calada, em quantas vezes não gritou, em quantas vezes não falou o que sentia só para não arranjar barulho, só para não fazer ninguém chorar, só para não pisar ninguém. E aí ela volta a pensar de novo e não chega a nenhuma conclusão. Ela faz isso tudo porque acha que se abdicar um pouco da sua felicidade os outros estarão bem à sua volta e ela se sentirá melhor com isso, será o pilar, será a força, será a gargalhada final que muitos precisam. Ela não tem a família perfeita, a mãe não a compreende e o pai não quer saber, os irmãos são pequenos demais para entenderem, ela não tem o homem perfeito porque ela acha que já teve e então não quer mais nenhum e continua assim, à procura que uma estrelinha lhe diga o que tem de fazer. Ela não tem nenhum dom especial, não é realmente boa em nada a não ser observar, ver à sua volta e com isso tornar a pensar novamente. Ela não tem objectivos, não tem esperança e já não quer muita coisa que antes queria porque a vida fez-lhe o favor de lhe tirar tudo isso. Ela é mais doce agora, mais serena, zanga-se menos e deixa que abuzem mais, deixa ver até onde vai, porque ela quer ver quais são os limites das pessoas. Quer aprender, quer ser diferente, quer jogar mais e amar menos. Eu conheço tão bem essa menina que parece mais que nasci com ela.