quarta-feira, 25 de março de 2015

Balada de piano solta, leve

Sinceramente já não sei como me meti nisto, esta bola de neve, esta dor pequenina e aguda que à muito tempo me deixa incapaz de ver a felicidade. Cegou-me, como aquelas lanternas gigantes que se nos apontam aos olhos deixa-mos de ver o que seja, como se fosse madrugada mas como um eclipse sem fim. Sempre tive dificuldade em falar do que sentia, até porque nunca soube bem o que era sentir, sempre andei meio anestesiada. Mentira, acho que uma vez senti de verdade, mas doeu tanto que não quis voltar a isso outra vez. Portanto agora quando sinto, choro, choro muito, mas quando paro penso na dor que senti e fico "afinal não é assim tão mau", isto porque agora quando sorrio, já nem parece genuíno, como era antigamente, como uma selfie perfeita. Já não me lembro bem de como é acordar naqueles dias de sol, em que nos dá vontade de correr nus pela casa sem pensar em mais nada, como um mergulho no mar azul, sem ponta de preocupação, sem o sabor amargo que levo todos os dias. Dou por mim a perguntar qual será o meu propósito se não fazer os outros felizes, fazer os outros sentirem-se bem, fazer para os outros. Imagino como seria voltar a esses dias, enquanto oiço na minha cabeça uma balada de piano solta, leve, como uma criança que sorri sem ver maldade em nada, sem maldade nos que a rodeia. Nessa altura, quando era criança, curiosamente já sentia que as coisas não iriam ser tão alegres como nos filmes, no entanto poderiam ter sido mais difíceis, tendo em conta algumas vidas que andam por aí.